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O Resumo Histórico


Na Antiguidade



Na Pré-história, o território actual da Tunísia era povoado por berberes com um estilo de vida do Neolítico. Ainda antes da fundação de Cartago, no século IX a.C., os fenícios de Tiro teriam implantado diversos entrepostos comerciais ao longo das costas do que são hoje a Líbia e a Tunísia. Djerba era parte dessa rede de entrepostos fenícios, onde se comercializava o azeite, trigo, cevada e frutos.



Túmulos púnicos em Souk el Guebli, Djerba





Djerba era um importante ponto de passagem nas rotas para o interior do continente africano, e por isso prosperou durante cerca de 500 anos com os fenícios e cartagineses. Os cartagineses fundaram o mais importante entreposto, chamado Menix, na costa sudeste, que transformaram num lugar de trocas comerciais da bacia mediterrânica. Construíram também vários portos para as suas embarcações, que utilizaram para fazer escala nos seus percursos ao longo do Mediterrâneo. Além da cultura da oliveira, existiam oficinas de cerâmica, embarcações pesqueiras, e produzia-se o corante de púrpura à base de murex que era usado para tingir as vestes dos mais poderosos, que tornou a ilha célebre.



Mausoléu númida em Henchir Bourgou, perto de Midoun





Existe uma tradição local, que conta que devido ao cerco que durou dois anos a Jerusalem, e que levou à completa destruição do templo de Salomão no ano 586 a.C, muitas familias judaicas fugiram do Cativeiro Babilónico e instalaram-se na ilha de Djerba. Conta-se que uma das portas do templo de Salomão teria sido incorporada na sinagoga de la Ghriba.





Os primeiros contactos com os romanos foram durante a Primeira Guerra Púnica, no decurso de operações romanas contra Cartago. A primeira verdadeira expedição naval comandada por Cneu Servílio Cepião e Caio Semprônio Bleso foi enviada a Djerba no ano de 253 aC. Uma segunda expedição, comandada pelo cônsul Cneu Servílio Gêmino, foi lançada durante a Segunda Guerra Púnica, no ano de 217 aC., no mesmo ano em que se travou a batalha do Lago Trasimeno, que opôs cartagineses e romanos em Itália. No entanto, a colonização romana só se intensifica a partir do ano 6 aC., depois da fase dos protetorados romanos sobre os príncipes berberes. A ilha tinha então duas cidades: Meninx e Thoar.



Mais tarde, começaram a surgir pequenos povoados espalhados pela ilha, e um deles no centro da ilha que é hoje conhecido como Henchir Bourgou, descoberto perto de Midoun, onde foram encontrados vestígios duma grande cidade que remonta ao século IV aC., marcados pela presença de cerâmica e um imponente mausoléu que provavelmente pertenceu à família real númida. Um segundo povoado, situado na costa sudeste, foi um centro de produção de corantes à base de murex, citado por Plínio, o Velho como sendo o mais importante a seguir a Tiro, na Fenícia. As quantidades substanciais de mármore colorido ali descobertos testemunham a riqueza da cidade. O terceiro centro urbano importante, provavelmente a antiga Haribus, encontra-se na costa sul, perto da aldeia de Guellala.



Ruínas de um templo romano perto de El Kantara





Alegadamente nasceram em Djerba, dois imperadores romanos do século III, Treboniano Galo e o seu filho Volusiano. Um decreto romano do ano 254, pouco depois da morte de ambos, menciona a ilha na expressão «Creati in insula Meninge quae nunc Girba dicitur» (tradução aproximada: "criados na ilha Meninge, que agora se chama Girba"). Essa é a primeira menção conhecida do nome Girba. Em meados do século III foi construída uma basílica no que se torna a diocese de Girba. Dois bispos da ilha ficaram na História: Monnulus e Vicente, que assitiram, respetivamente aos concílios de Cartago, respetivamente ao de 255 e de 525. A ruínas da catedral episcopal foram identificadas perto de El Kantara, no sudeste da ilha; dali provêm um batistério em forma de cruz conservado no Museu Nacional do Bardo, em Tunes.



Batistério encontrado nas ruínas duma catedral episcopal situada perto de El Kantara





Idade Média



Após a Queda do Império Romano do Ocidente, Djerba é marcada pelas sucessivas invasões. Primeiro pelos Vândalos e depois pelos Bizantinos, e no ano de 665 é tomada pelos Árabes comandados por Ruwayfa ibn Thâbit Al Ansari, um companheiro do profeta Maomé. No século XI, a ilha torna-se independente após a invasão parcial da Tunisia Continental pelos Banu Hilal vindos do Egito e a ilha torna-se um reduto de piratas. É também nessa época que a presença duma comunidade judaica é atestada historicamente pela primeira vez por uma carta de comércio proveniente da Geniza do Cairo.



No século XII, foi ocupada pelo emir hamádida Abdalazize ibne Almançor (r. 1104–1121) e é tomada brevemente pelo emir zirida Ali ibne Iáia entre 1115 e 1116.



Nos quatro séculos seguintes, Djerba foi invadida sucessivamente pelos Normandos da Sicília, Aragoneses, Espanhóis e Otomanos e sofreu vários massacres, tanto de cristãos como de muçulmanos. Os reinos cristãos da Sicília e de Aragão tentam várias vezes tomar a ilha, dominada pelos ibaditas carijitas. Subsistem várias mesquitas desse período, as mais antigas datadas do século XII, bem como duas fortalezas imponentes. Em 1134, tirando partido da situação agitada em Ifríquia, os normandos da Sicília apoderam-se da ilha, que fica sob o domínio de Rogério II e do seu filho Guilherme, o Mau. Em 1154 os djerbanos rebelam-se, mas os normandos esmagam a revolta com um banho de sangue. Os normandos só seriam expulsos de Djerba e do litoral tunisino em 1160, pelo Califado Almóada.



Durante o outono de 1284, o almirante ao serviço de Aragão Rogério de Lauria conquista a ilha, onde instala um senhorio sob a soberania da Santa Sé. Em 1289, Rogério manda construir preto da antiga Meninx uma fortaleza inicialmente conhecida como Castelló, e posteriormente como Borj El Kastil ou Borj El Gastil. Após a sua morte, Rogério é substituído sucessivamente pelos seus filhos. Não conseguindo controlar as tentativas de sublevação dos djerbanos e os ataques do Reino Haféssida, os sucessores de Rogério cederam os seus direitos ao rei Frederico II da Sicília, que nomeia Ramon Muntaner como governador em 1311. Quando Muntaner assumiu o cargo e durante os meses seguintes uma crise alimentar assolou severamente a ilha, o que instigou uma revolta, que foi apoiada por gentes do continente. Muntaner foi governador até 1314, mas só em meados de 1335, durante a guerra entre Aragão e Castela, a ilha voltou a estar em mãos de muçulmanos, sendo conquistada aos Aragoneses pelo califa haféssida Abacar Mutavaquil (Abacar II).



Os Aragoneses retomam Djerba em 1388, com a ajuda duma frota genovesa, mas voltam a perdê-la no final de 1392.Em 1424 e 1431, a ilha é atacada pela armada de Afonso V de Aragão, mas os ataques são repelidos com a ajuda do califa haféssida Abu Faris Abdalazize Mutavaquil. Os muçulmanos constroem uma fortaleza no norte da ilha, ao lado das ruínas da antiga Girba, a que chamam Borj El Kebir. A cidade Houmt Souk desenvolve-se nas proximidades.



O Borj El Kebir, o forte de Houmt Souk, originalmente construído no século XV





Em 1480, as gentes locais revoltam-se contra o califa haféssida Abu Omar Otomão e tomam o controlo da calçada romana que liga a ilha ao continente em El Kantara. As lutas internas entre os Wahbiya e os Nakkara, duas fações ibaditas, que dominam, respetivamente, o noroeste e o sudeste de Djerba não afetam o progresso económico da ilha. Os habitantes pagam tributo ao soberano haféssida mas mantêm-se independentes. Durante o período zirida, a Tunísia é invadida por tribos árabes nómadas, mas Djerba escapa ao seu controlo.



O Império Otomano



Cerca de 1500, Djerba passa a estar sob o controlo do Império Otomano, através do corsário Oruç Reis (Aruj Barba Ruiva) que obtém do soberano haféssida a posse da ilha. Durante este periodo existiram várias tentativas de conquista da ilha e de pilhagens por parte de tropas espanholas e genovesas, e os espanhóis chegam mesmo a dominar a ilha entre 1520 e 1524 e entre 1551 e 1560. Nos períodos em que não está nas mãos dos espanhóis, é usada como base temporária pelos corsários otomanos. Durante todo este periodo de invasões e batalhas sucessivas pelo dominio da ilha, Dragut um corsário otomano, como estratégia militar mandou que os seus homens derrubassem parte da ponte que atravessa o canal de El Kantara. Os estragos provocados na ponte milenar tornaram-na praticamente inútil. Ficaria nesse estado durante 400 anos, só tendo sido reaberta em 1953.



A ponte de El Kantara, que liga a ilha com o continente, também conhecida por calçada romana devido a ter sido construída pelos romanos





Em 1560, outra expedição europeia, composta principalmente de navios espanhóis, napolitanos, sicilianos e malteses, comandada por João Luís de Lacerda e Silva, duque de Medinaceli, ocupa a ilha para a converter numa base de operações contra Trípoli. É neste cenário de rivalidade pelo controlo do Mediterrâneo que entre 9 e 14 de maio de 1560 é travada ao largo da ilha a batalha de Djerba, que opõe a frota de Lacerda e Silva à armada otomana comandada por Piale Paxá e Dragut. A batalha saldou-se numa pesada derrota para os cristãos. No dia 15 de Maio, a pequena guarnição cristã de Djerba foi exterminada depois de se bater destemidamente, sendo as suas ossadas empilhadas numa pirâmide, a "Torre dos Crânios", que subsistiu pelo menos até 1846. A batalha é um dos acontecimentos político-militares mais marcantes do século XVI.



A Batalha de Djerba e a Torre dos Crânios







Nos períodos em que esteve sob o domínio muçulmano, ao longo do século XVI e início do século XVII, a ilha depende alternadamente dos governadores de Argel, Trípoli ou Tunes. A sua anexação à Tunísia foi concretizada por um acordo concluído em 1614. A partir de 1705, com o estabelecimento da dinastia dos Husseinitas, passa a fazer-se representar em Djerba por um xeque e caïds escolhidos entre as famílias locais mais influentes. Dentre estas destacaram-se, no século XVI os Senumeni e os Bel Djelloud e entre a segunda metade do século XVII até ao século XIX, a família dominante é a dos Ben Ayed.



A partir do século XVIII o maliquismo expande-se na ilha, ao lado do ibadismo, ao mesmo tempo que a língua berbere perde terreno face ao árabe. Durante esse mesmo século, assiste-se a incursões de nómadas Ouerghemma e Accaras, provenientes da região de Djeffara, atualmente o sudeste da Tunísia e noroeste da Líbia.



Entre 1705 e 1706, e novamente em 1809, a peste assola a ilha. Em 1846, Ahmed I Bey interdita a escravatura, o que afeta negativamente o comércio de Djerba, já que esta, juntamente com Gabès, era então um dos principais centros tunisinos do tráfico de escravos alimentado pelas caravanas do deserto do Saara provenientes dos oásis de Gadamés e de Gate. O tráfico desloca-se então para Trípoli. Em 1794, Djerba é saqueada durante 58 dias por um aventureiro de nome Ali Burghul. Em 1864 registam-se mais ataques de nómadas da região de Zarzis. No mesmo ano há uma nova epidemia de peste e uma revolta.



Protetorado Francês 



Em 1881 a Tunísia passa a ser um protetorado de França. A ocupação da ilha pelos franceses é antecedida por um bombardeamento.As tropas francesas ocupam o Borj El Kebir, em Houmt Souk, a 28 de julho de 1881 e ali permanecem até 1890, data em que a administração da ilha passou para a autoridade civil.



Em 1956 a Tunísia torna-se independente e Djerba passa a ser uma delegação da província de Médenine. Por motivos de disputa politica-partidária durante a luta pela independência esta é negligenciada pelo governo tunisino durante vários anos. Enquanto que no resto do país o governo se empenha na construção de hospitais, escolas secundárias e estradas, inclusivamente em pequenas localidades, nada disso acontece em Djerba até aos anos 1970 e 1980. Apesar de ser mais povoada que muitas regiões que se tornaram províncias, a ilha continua a fazer parte da província de Médenine.



Entre 1962 e 1969, devido às crises económicas, milhares de djerbanos emigram para a Europa, a maior parte para a região de Paris. As localidade de Sedouikech, Guellala e Ajim ficam praticamente sem população ativa devido à emigração.



Desde os anos 1960, a face da ilha mudou muito. Foi construída uma extensa zona hoteleira na costa nordeste, o aeroporto de Melita foi ampliado, urbanizaram-se várias áreas, o que transformou simples lugarejos em verdadeiras localidades, as estradas foram alargadas e foi ampliada a rede electrica.



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